Citações utilizadas na oficina
sobre Amor
(Jogo
Teatral de improvisação com essas frases/pensamentos)
(11
de outubro de 2011)
"Passamos metade da
vida à espera daqueles que amamos e a outra metade a deixar os que
amamos."Fonte - Monte de Pedras Autor – Victor Hugo
"Os olhos são os
intérpretes do coração, mas só os interessados entendem essa linguagem."Autor – Blaise Pascal
"O amor não tem idade;
está sempre a nascer."Autor – Blaise Pascal
"Apenas amamos aquilo que
não possuímos por completo."Fonte - A Prisioneira. Autor – Marcel Proust
"Não ser amado é falta de
sorte, mas não amar é a própria infelicidade."Autor – Albert Camus
"O homem tem duas faces:
não pode amar ninguém, se não se amar a si próprio.” Fonte - A Queda. Autor – Albert Camus
"Há vários motivos para
não amar uma pessoa, e um só para amá-la; este prevalece."Autor – Carlos Drummond de Andrade
"Só
pelo amor o homem se realiza plenamente."Autor
- Platão
"O homem mais miserável,
mesmo que julgue não mais amar, conserva ainda o poder de amar."Autor - Bernanos , Georges
O
amor não se define; sente-se."- Séneca
"Saber amar não é
amar. Amar não é saber."Autor - Jouhandeau , Marcel
"Amor e desejo são
coisas diferentes. Nem tudo o que se ama se deseja e nem tudo o que se deseja
se ama."Autor - Cervantes , Miguel
"É certo, afinal de
contas, que neste mundo nada nos torna necessários a não ser o amor."Fonte – Werther Autor - Goethe.
"O amor triunfa sobre
tudo, cedamos também nós ao amor."Fonte – Bucólicas. Autor - Virgílio
"Não há ninguém, mesmo
sem cultura, que não se torne poeta quando o Amor toma conta dele."Fonte - O Banquete. Autor - Platão
"Dizer que se vai amar
uma pessoa a vida toda é como dizer que uma vela continuará a queimar enquanto
vivermos.”
Fonte - Sonata a Kreutzer Autor - Tolstoi.
Ser amado é consumir-se na
chama. Amar é luzir com uma luz inesgotável. Ser amado é passar; amar é
durar."Fonte - Cadernos de Malte Laurids
Brigge. Autor - Rilke.
Todo o objecto amado é o
centro de um paraíso."Fonte – Fragmentos. Autor - Novalis , Friedrich
"Só o amor e a arte
tornam a existência tolerável."Fonte - A Servidão Humana. Autor - Maugham , William
"Amar bem é amar
loucamente."Fonte - Poeta Trágico. Autor - Suarés , André
Quando nos sentimos dispostos a
amar queremos que nos amem, sem pensar que essa exigência afasta o génio do
amor."Fonte - Correspondência de Goethe Com uma Criança. Autor - Brentano , Bettina
"Triste é o homem que
só ama as coisas quando as perde."Fonte – Baol. Autor - Benni , Stefano
"O amor é a única flor
que brota e cresce sem a ajuda das estações."Autor - Gibran , Khalil
"Nascemos para amar. O
amor é o princípio da existência e o seu único fim."Autor - Disraeli , Benjamin
"O prazer do amor dura
apenas um instante, os desgostos do amor duram toda a vida."Autor - Florian , Jean-Pierre
"O amor é a capacidade
de perceber o semelhante no dessemelhante."Fonte - Minima moralia, III. Autor - Adorno , Theodore
Somente através do amor o
homem se pode libertar de si mesmo."Fonte – Diários. Autor - Hebbel , Christian
"O amor é um grande
mestre, ensina de uma só vez."Fonte - Le MenteurAutor - Corneille , Pierre
"Se te amas a ti
mesmo, ama os outros do mesmo modo. Enquanto amares uma única pessoa menos do
que a ti mesmo, não te conseguirás amar a ti mesmo."Fonte - Sermão: Qui audit me. Autor - Eckhart , Meister
"Sem amor por si
mesmo, o amor pelos outros também não é possível. O ódio por si mesmo é
exatamente idêntico ao flagrante egoísmo e, no final, conduz ao mesmo
isolamento cruel e ao mesmo desespero."Fonte - O Lobo das Estepes. Autor - Hesse , Hermann
"Não existem amores
feios nem prisões belas."Fonte - Notables Enseignements,
adages et proverbes. Autor - Gringore , Pierre
"Temer o amor é temer
a vida, e quem teme a vida já está três quartos morto."Fonte - Matrimónio e Moral. Autor - Russell , Bertrand
"Contigo não posso
viver, nem sem ti."Fonte – Epigramas. Autor - Marcial
A medicina é o remédio para
todas as dores humanas, / apenas o amor é um mal que não tem cura."Fonte – Elegias. Autor - Propércio
"O amor não pode
coexistir com o temor."Fonte - Cartas a Lucílio. Autor - Séneca
"A igualdade é o
vínculo mais sólido do amor."Fonte - Minna von Barnhelm. Autor - Lessing , Gotthold
"Apaixonar-se é a
receita que os velhos usam contra o tempo; e há tanta virtude nesse método, que
voltam a ser jovens enquanto o praticam."Fonte – Lettere. Autor - Aretino , Pietro
"Um homem tem sempre
medo de uma mulher que o ame muito."Fonte - A Ópera dos Três Vinténs. Autor - Brecht , Bertolt
"Aquilo que provamos
quando estamos apaixonados talvez seja o nosso estado normal. O amor mostra ao
homem como é que ele deveria ser sempre."Fonte – Apontamentos. Autor - Tchekhov , Anton
"O amor? Começa com
grandes palavras, continua com palavrinhas, termina com palavrões."Fonte - Petite Pluie. Autor - Pailleron , Édouard
"No amor, a autoridade
é por direito daquele que ama menos."Fonte - Dix épines pour une fleur. Autor - Houdetot , E.
"Entre os seres
humanos, mesmo se intimamente unidos, permanece sempre aberto um abismo que
apenas o amor pode superar, e mesmo assim somente como uma passagem de
emergência."Fonte – Knulp. Autor - Hesse , Hermann
"O verdadeiro amor é
como a aparição dos espíritos: toda a gente fala dele, mas poucos o
viram."Autor - La Rochefoucauld , François
PENSANDO O AMOR
A Filosofia é
ela mesma uma espécie de amor, um amor que pensa. O amor é o mais celebrado dos
afetos, tanto na poesia, no teatro, como na música. Entretanto, parece que
muito pensamento destrói os sentimentos (isso que indica uma certa
incompatibilidade entre pensamento e amor). Será possível celebrar o amor através
do pensamento? A noção de amor é uma questão filosófica fundamental e diz
respeito ao outro. Pensar o amor implica refletir sobre a nossa relação com a alteridade e, mais radicalmente, sobre a
nossa relação com a alteridade que há
em nós mesmos. Que é o amor? O
primeiro impulso é responder essa questão com exemplos: há o amor passional, mais ligado ao desejo
sexual; há o amor condicionado pelo
sangue em comum, o amor do pai ou da mãe pelo filho ou do irmão pelo irmão;
há ainda a amizade, que não é uma ligação
sensual ou familiar, é uma afeição pelo próximo conhecido; e há finalmente a caridade, o amor pelo próximo
desconhecido. Esses vários tipos de amor parecem se organizar em uma hierarquia
não explícita: do mais sensível para o mais espiritualizado, do mais egoísta e
possessivo para o mais desprendido e solitário, do mais natural para o mais
civilizado. A desconfiança velada contra o corpo e seus afetos rege a
classificação dos vários tipos de amor. O que há de comum em todos esses
exemplos? Por ser um sentimento, o amor parece nada compartilhar com o
pensamento, chegando mesmo a ser visto como o outro ou o diferente da razão.
Apesar disso, o amor é um sentimento diferente dos outros. Embora esteja
inexoravelmente ligado à dimensão do corpo e de seus afetos, o amor é visto
também como a possibilidade mais extraordinária do ser humano se relacionar com
seu outro. A excelência do amor advém
da sua força de instaurar unificação e harmonia entre os homens. Por causa
desse suposto poder, o amor pertence à zona limite entre sensibilidade e racionalidade, entre natureza e cultura, entre sagrado
e profano. O amor, considerado como desejo
de fusão com a alteridade,
encontra em Hegel seu maior
defensor. A noção de amor tem um papel central na sua filosofia, especialmente
nos textos de juventude. Para Hegel, o amor é o impulso inerente do ser vivente
em direção à unificação com o outro. Os amantes formam um todo, em que cada um
é igual no poder: “Somente no amor somos um com o objeto, sem que ele domine ou
seja dominado”, diz ele em uma anotação do verão de 1797 (Escritos da juventude, p. 242). O amor, do jeito que Hegel
compreende, é uma unidade equilibrada de
opostos e presta um serviço inestimável na história: estabelecer comunhão,
comunidade e comunicação entre os seres humanos. O jovem Hegel esperava que o
amor fosse a solução para todos os problemas éticos e políticos. Mas o amor também tinha seu inconveniente.
O amor podia ser também a raiz de todos os problemas, pois quem ama, ama sem
razão; tendia a ser possessivo e, por fim, deixaria de amar também sem razão.
Não é possível fazer uma lei que obrigue alguém a amar, nem que impeça o fim do
amor. Por se tratar de um sentimento, o amor apresenta-se como algo finito,
quer dizer, passageiro, acidental e arbitrário. A dialética hegeliana tinha como desafio lidar com essa ambigüidade
do amor. Como escapar desse dilema? O Hegel da maturidade acaba substituindo a
aposta no amor pela aposta na razão: posso
reconhecer o outro como sujeito livre e independente, se ele fizer o mesmo
comigo. O reconhecimento racional recíproco será então a única maneira
efetiva de superar as grandes cisões do homem, frente à sociedade e à si
próprio. A vantagem da comunidade instaurada pela razão é que ela é permanente,
absoluta, universal. A razão produz contratos e instituições, tais como o
casamento, a família e o Estado, que seguem leis determinadas, evitando a
arbitrariedade, a exclusividade e a volubilidade típicas do amor. Contudo, a
decepção hegeliana não precisa ser interpretada como um sinal da imperfeição do
amor, mas muito mais como uma lição de que haja talvez um excesso de
expectativa ao exigir algo que ele não pode dar, a não ser que seja domesticado
ou explorado por normas e regras. Talvez o amor, na sua imponderabilidade, exponha
de forma mais radical a verdadeira face do homem, um ser que existe de modo
finito, quer dizer, de um jeito imprevisível, sensual, temporal e plural.
Referência:
FEITOSA,
Charles. Explicando a Filosofia com Arte.
Ediouro. Rio de Janeiro. 2004.
POR
QUE FILOSOFIA?
Marilena
Chauí
Conhece-te
a ti mesmo...
Quem viu o filme Matrix – antes que se tornasse o primeiro de uma série
– há de se lembrar da cena em que o herói Neo é levado pelo guia Morfeu para
ouvir o oráculo.
Que é um oráculo? A palavra oráculo possui dois significados
principais, que aparecem nas expressões “consultar um oráculo” e “receber um
oráculo”. No primeiro caso, significa “uma mensagem misteriosa” enviada por um
deus como reposta a uma indagação feita por algum humano; é uma revelação
divina que precisa ser decifrada e interpretada. No segundo, significa “uma
pessoa especial”, que recebe a mensagem divina e a transmite para quem enviou a
pergunta à divindade, deixando que o interrogante decifre e interprete a
resposta recebida. Entre os gregos antigos, essa pessoa especial costumava ser
uma mulher e era chamada sibila.
Em Matrix, aparece a sibila, uma mulher que recebeu o oráculo (isto é,
a mensagem) e que é também o oráculo (ou seja, a transmissora da mensagem).
Essa mulher pergunta a Neo se ele leu o que está escrito sobre a porta de
entrada da casa em que acabou de entrar. Ele diz que não. Ela então lê para ele
as palavras, explicando-lhe que são de uma língua há muito desaparecida, o
latim. O que está escrito? Nosce te ipsum.
O que significa? “Conhece-te a ti mesmo.” O oráculo diz a Neo que ele – e
somente ele – poderá saber se é ou não aquele que vai livrar o mundo do poder
de Matrix e, portanto, somente conhecendo a si mesmo ele terá a reposta.
Poucas pessoas que viram o filme compreenderam exatamente o significado
dessa cena, pois ela é a representação, no futuro, de um acontecimento do
passado, ocorrido há 23 séculos, na Grécia.
Havia na Grécia, na cidade de Delfos, um santuário dedicado ao deus
Apolo, deus da luz, da razão e do conhecimento verdadeiro, o patrono da
sabedoria. Sobre o portal de entrada desse santuário estava escrita a grande
mensagem do deus ou o principal oráculo de Apolo: “Conhece-te a ti mesmo.” Um
ateniense, chamado Sócrates, foi ao santuário consultar o oráculo, pois em
Atenas, onde morava, muitos diziam que ele era um sábio e ele desejava saber o
que significava ser um sábio e se ele poderia ser chamado de sábio. O oráculo,
que era uma mulher, perguntou-lhe: “O que você sabe?”. Ele respondeu: “Só sei que
nada sei.” Ao que o oráculo disse: “Sócrates é o mais sábio de todos os homens,
pois é o único que sabe que não sabe.” Sócrates, como todos sabem, é o patrono
da Filosofia.
Neo e a Matrix
Se voltarmos ao filme Matrix, podemos perguntar por que foi feito o
paralelo entre Neo e Sócrates.
Comecemos pelo nome das duas personagens masculinas principais: Neo e
Morfeu. Esses nomes são gregos. Neo significa “novo” ou “renovado” e, quando
dito de alguém, significa “jovem na força e no ardor da juventude.” Morfeu pertence
à mitologia grega: era o nome de um espírito, filho do Sono e da Noite, que
possuía asas e era capaz, num único instante, de voar em absoluto silêncio para
as extremidades do mundo. Esvoaçando sobre um ser humano ou pousando levemente
sobre sua cabeça, tocando-o com uma papoula vermelha, tinha o poder não só de
fazê-lo adormecer e sonhar mas também de aparecer-lhe no sonho, tomando forma
humana. É dessa maneira que, no filme, Morfeu se comunica pela primeira vez com
Neo, que desperta assustado com o ruído de uma mensagem na tela de seu
computador. E, no primeiro encontro de ambos, Morfeu surpreende Neo por sua
extrema velocidade, por ser capaz de voar e por parecer saber tudo a respeito
desse jovem que não o conhece. Várias vezes, Morfeu pergunta a Neo se ele tem
sempre a impressão de estar dormindo e sonhando, como se nunca tivesse certeza
de estar realmente desperto. Essa pergunta deixa de ser feita a partir do
momento em que, entre uma pílula azul e uma vermelha oferecidas por Morfeu, Neo
escolhe ingerir a vermelha ( como a papoula da mitologia), que o fará ver a
realidade. É Morfeu quem lhe mostra a Matrix, fazendo-o compreender que passou
a vida inteira sem saber se estava desperto ou se dormia e sonhava porque,
realmente, esteve sempre dormindo e sonhando.
O que é a Matrix? Essa palavra é latina. Deriva de mater, que quer dizer “mãe”. Em latim, matrix é o órgão das fêmeas
dos mamíferos onde o embrião e o feto se desenvolvem; é o útero. Na linguagem
técnica, a matriz é o molde para fundição de uma peça; o circuito de
codificadores e decodificadores das cores primárias (para produzir imagens na
televisão) e dos sons (nos discos, fitas e filmes); e, na informática, é a rede
de guias de entradas e saídas de elementos lógicos dispostos em determinadas
intersecções.
No filme, a Matrix tem todos esses sentidos: ela é, ao mesmo tempo, um
útero universal onde estão todos os seres humanos cuja vida real é “uterina” e
cuja vida imaginária é forjada pelos circuitos de codificadores e
decodificadores de cores e sons e pelas redes de guias de entrada e saída de
sinais lógicos.
Qual é o poder da Matrix? Usar e controlar a inteligência humana para
dominar o mundo, criando uma realidade virtual ou falsa realidade na qual todos
acreditam. A Matrix é o feitiço virado contra o feiticeiro: criada pela
inteligência humana, a Matrix é inteligência virtual que destrói a inteligência
que a criou porque só subsiste sugando o sistema nervoso central dos humanos.
Ante que a palavra computador fosse usada correntemente, quando só
havia as enormes máquinas militares e de grandes empresas, falava-se em
“cérebro eletrônico”. Por quê? Porque se tratava de um objeto técnico muito
diferente de todos até então conhecidos pela humanidade. De fato, os objetos
técnicos tradicionais ampliavam a força física dos seres humanos (o microscópio
e o telescópio aumentavam o limite dos olhos; o navio, o automóvel e o avião
aumentavam o alcance dos pés humanos; a alavanca, a polia, a chave de fenda, o
martelo aumentavam a força das mãos humanas; e assim por diante). Em
contrapartida, “o cérebro eletrônico” ou computador amplia e mesmo substitui as
capacidades mentais ou intelectuais dos seres humanos. A Matrix é o computador
gigantesco que escraviza os homens, usando a mente deles para controlar as próprias
percepções, sentimentos e pensamentos, fazendo-os crer que o aparente é real.
Vencer o poder da Matrix é destruir a aparência, restaurar a realidade
e assegurar que os seres humanos possam perceber e compreender o mundo
verdadeiro e viver realmente nele. Todos os combates realizados por Neo e seus
companheiros são combates cerebrais e do sistema nervoso, isto é, são combates
mentais entre os centros de sensação, percepção e pensamento humanos e os
centros artificiais da Matrix. Ou seja, as armas e tiroteios que aparecem na
tela são pura ilusão, não existem, pois o combate não físico e sim mental.
Neo e Sócrates
Por que as personagens do filme afirmam que Neo é “o escolhido”? Por
que eles estão seguros de que ele será capaz de realizar o combate final e
vencer a Matrix?
Porque ele era um pirata eletrônico, isto é, alguém capaz de invadir
programas, decifrar códigos e mensagens, mas, sobretudo, porque ele também era
um criador de programas de realidade virtual, um perito capaz de rivalizar com
a própria Matrix e competir com ela. Por Ter um poder semelhante ao dela, Neo
sempre deconfiou de que a realidade não era exatamente tal como se apresentava.
Sempre teve dúvidas quanto à realidade percebida e secretamente questionava o
que era a Matrix. Essa interrogação o levou a vasculhar os circuitos internos
da máquina (tanto assim que começou a ser perseguido por ela como alguém
perigoso) e foram suas incursões secretas que o fizeram ser descoberto por
Morfeu.
Por que Sócrates é considerado o “patrono da Filosofia”? Porque jamais
se contentou com as opiniões estabelecidas, com os preconceitos de sua
sociedade, com as crenças não questionadas de seus conterrâneos. Ele costumava
dizer que era impelido por espírito interior (como Morfeu instigando Neo) que o
levava a desconfiar das aparências e procurar a realidade verdadeira de todas
as coisas.
Sócrates andava pelas ruas de Atenas fazendo aos atenienses algumas
perguntas: “O que é isso em que você acredita?”, O que é
isso que você está fazendo?”. Os atenienses achavam, por exemplo, que sabiam o
que era justiça. Sócrates lhes fazia perguntas de tal maneira sobre a justiça
que, embaraçados e confusos, chegavam à conclusão de que não sabiam o que ela
significava. Os atenienses acreditavam que sabiam o que significava a coragem.
Os atenienses acreditavam também que sabiam o que eram a bondade, a beleza, a
verdade, mas um prolongado diálogo com Sócrates os fazia perceber que não
sabiam o que era aquilo em que acreditavam.
A pergunta “O que é?” era o questionamento sobre a realidade essencial
e profunda de uma coisa para além das aparências e contra as aparências. Com
essa pergunta, Sócrates levava os atenienses a descobrir a diferença entre
parecer e ser, entre mera crença ou opinião e verdade.
Sócrates era filho de uma parteira. Ele dizia que sua mãe ajudava o
nascimento dos corpos e que ele era um parteiro, mas não de corpos e sim de
almas. Assim cimo sua mãe lidava com a matrix corporal, ele lidava com a matrix
mental, auxiliando as mentes a libertar-se das aparências e buscar a verdade.
Como os de Neo, os combates socráticos eram também combates mentais ou
de pensamento. E enfureceram de tal maneira os poderosos de Atenas que Sócrates
foi condenado à morte, acusado de espalhar dúvidas sobre as idéias e os valores
atenienses, corrompendo a juventude.
O paralelo entre Neo e Sócrates não se encontra apenas no fato de que
ambos são instigados por “espíritos” que os fazem desconfiar das aparências nem
apenas pelo encontro com um oráculo e o “Conhece-te a ti mesmo” e nem apenas
porque ambos lidam com matrizes. Podemos encontrá-lo também ao comparar a
trajetória de Neo até o combate final da Matrix e em uma das mais célebres e
famosas passagens de um escrito de um discípulo de Sócrates, o filósofo Platão.
Essa passagem encontra-se numa obra intitulada A República e chama-se “O mito
da caverna” (assista aos vídeos e entenda
este mito – observação do professor).
O que é a caverna? O mundo das aparências em que vivemos. Que são as
sombras projetadas no fundo? As coisas que percebemos. Que são os grilhões e as
correntes? Nossos preconceitos e opiniões, nossa crença de que o que estamos
percebendo é a realidade. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna?
O filósofo. O que é a luz do Sol? A luz da verdade. O que é o mundo iluminado
pelo sol da verdade? A realidade. Qual o instrumento que liberta o prisioneiro
rebelde e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A Filosofia.
Introdução à História da
Filosofia – A trágica história de Sócrates.
Sócrates foi o
pioneiro do que atualmente se define como Filosofia Ocidental. Nascido em
Atenas, por volta de 470 ou 469
a.C., seguiu os passos do pai, o escultor Sofrônico, ao
estudar seu ofício, mas logo depois se devotou completamente ao caminho
filosófico, sem dele esperar nenhum retorno financeiro, apesar da precariedade
de sua posição social. Seu trabalho seria marcado profundamente pelos textos de Anaxágoras,
outro célebre filósofo grego.
No início, Sócrates caminhou pelas mesmas veredas dos
sofistas, mas ao retomar seus princípios ele os universalizou, empreendendo a
jornada típica do pensamento grego. Suas pesquisas iniciais giraram em torno do
núcleo da alma humana. Até hoje este filósofo é sinônimo de integridade moral e
sabedoria, pois sempre agiu com ética, responsabilidade, e tornou-se padrão de
perfeita cidadania.
Ele desprezava a política e não se adaptava à vida pública,
embora tenha exercido algumas funções no quadro político, inclusive como
soldado. Seu método filosófico ideal era o diálogo, através do qual ele se
comunicava da melhor forma possível com seus contemporâneos, no esforço de
transmitir seus conhecimentos para os cidadãos gregos. Além de legar ao mundo
sua sabedoria sem par, ele também formou dois discípulos fundamentais para a
perpetuação e desenvolvimento de seus ensinamentos – Platão e Xenofontes -, embora não tenha
deixado por escrito o fruto de suas pregações.
Casado com Xantipa, nunca priorizou sua família, sempre
entregue ao exercício dos dons de que era dotado. Sua essência crítica e justa
o levava a crer que tinha uma importante missão, a de multiplicar seres
igualmente dotados de sabedoria, probidade, moderação. Este caminho o levaria a
se chocar com a cúpula dos governantes, na qual conquistaria inimigos e
insatisfação. A contundência de sua fala, o rigor de sua personalidade, seu
viés crítico e mordaz, suas idéias muitas vezes opostas à estrutura social
vigente e o método educativo de que se valia, geraram-lhe antagonistas no seio
da estrutura política que então dominava a Grécia.
O comportamento de Sócrates desencadeou em sua prisão,
acusado por Mileto, Anito e Licon, de perverter a juventude e renegar os deuses
cultuados pelos gregos, trocando-os por outros. Recebendo a oportunidade de
advogar a seu favor, diante do tribunal e dos homens, ele se recusou, pois não
pretendia renunciar ao que acreditava e ao que pregava a seus conterrâneos. Ele
preferia ser condenado pela justiça terrena e preservar, diante da
imortalidade, a verdade de sua alma. Assim, optou pela morte, decretada por
seus juízes, através do voto da maioria.
Mesmo diante da chance de fugir, arquitetada por seu seguidor
Criton, com a complacência da justiça grega, ele recuou, pois não desejava
ferir as leis de seu país. Ao esperar a execução de sua sentença, prorrogada
por um mês – graças a uma lei que não permitia o cumprimento desta pena
enquanto um navio empreendesse uma jornada até Delos, oferecida em cumprimento
de um voto -, preparou-se psicologicamente para esta viagem além-túmulo, em
conversas espiritualizadas com seus amigos.
Após ter bebido calmamente seu cálice de cicuta, veneno
mortal, ele teria dito “devemos um galo a Esculápio”, pois acreditava que o
suposto deus da Medicina o tinha libertado da enfermidade conhecida como
‘vida’, liberando-o para a morte. Desta forma ele partiu em 399 a .C. aos 71 anos.
(Oficina de Filosofia e
Teatro – Professores Everton Nogueira e Lorena Miranda)
Tragédia:
uma breve caracterização.
A tragédia
tem sua origem no mesmo contexto em que surgiu o teatro, quando os rituais
primitivos eram o elo entre os homens e seus deuses. Esses rituais eram
realizados em forma de catarse, onde todos os praticantes se envolviam no
transe sem distinção de papéis. Na medida em que os rituais primitivos vão se
estilizando e tornando-se litúrgicos, vai surgindo uma hierarquia,
indispensável para a organização dos cultos aos deuses e em se tratando de
teatro ao deus Dionísio. Esta hierarquização vai criando os papéis dos
sacerdotes e celebrantes dos cultos, surgindo nesse processo pessoas
centralizadoras do “culto” e as participantes do mesmo, dando início aos elementos
atores e público. A tragédia surge juntamente com a comédia, no teatro grego,
sendo que a primeira possuía um caráter nobre dentro das comemorações ao deus
da fertilidade, capturava a essência humana e a sua relação com os sentimentos
profundos de amor, ódio, medo, traição, etc., enquanto que a comédia surgiu das
canções fálicas e tratava de assuntos do cotidiano, da vida comum dos homens.
Nas dionisíacas, festas em homenagem ao deus Dionísio, havia concursos de
tragédias, cujo prêmio para o vencedor era uma cabra. Acredita-se que a origem
da palavra tragédia tenha vindo de “tragos”, que em grego significa cabra ou
bode, animal que era sacrificado para o ritual dionisíaco. Há outra
possibilidade sobre sua origem, que poderia ter surgido da palavra “tragoi”,
que em grego significa adoradores ou seguidores de Dionísio.
O filósofo Aristóteles, em sua “Arte poética”,
organiza a tragédia em diferentes elementos que tem como finalidade a purgação
de emoções como a compaixão e o terror. Inicialmente apresenta o personagem (ethos) com elementos estranhos e
indesejáveis, para que no decorrer da apresentação, ele venha gradativamente
passando por situações catastróficas, não alcançando seus objetivos, gerando no
público uma identificação e por fim o efeito de catarse. Aristóteles entende
que a tragédia precisa ser um espetáculo belo, onde se reúna o canto (melopéia,
composição melódica), a harmonia e o ritmo. Ele qualifica a tragédia em seis
elementos constitutivos, sendo elas a fábula (ação ou enredo), o personagem
(ethos, caráter), a elocução ou dicção, o pensamento (dianóia), o espetáculo em
cena, e o canto (melopéia). Porém o seu modelo de estrutura da tragédia inicia
com o “prólogo” e segue com os “párodos, “episódio”, “estásimo” e por fim o
“êxodo”“.
A evolução cênica da apresentação de uma tragédia
começa quando os personagens são apresentados com seus “caracteres”, sua forma
de agir e sua “dianóia”, a forma do seu pensar que irá gerar determinadas
ações. Em seguida o espetáculo precisa fazer com que o público se identifique
com os personagens, gerando a “harmatia”, que é a impureza e a falha de caráter
do personagem, característica própria do ser humano comum. Esta harmatia é a
causadora da “empatia”, que é a relação de comunicação entre o ator e o
público, mas em se tratando de tragédia não pode haver calmaria, então entra em
cena a “peripécia”, transformando de forma repentina o destino do personagem,
fazendo-o agonizar em sua existência. Este personagem central, que costumava
ser o corifeu, líder do coro, possui a estratégia da “anagnorisis”, onde
discursa pelo reconhecimento da sua própria falha, aceita e
confessa seu erro, buscando a sua redenção, mas o sistema trágico aristotélico
não para por aí, é preciso a “catástrofe”, o desmoronar de toda a estrutura
ethos, o final terrível próprio de uma tragédia. Por fim é nesta evolução que o
público realiza a sua “catarse”, a purificação da harmatia apresentada no
início do espetáculo trágico. Na Grécia do século V a.C. acreditava-se que ao
assistir as apresentações das tragédias, saia-se do teatro purificado e
transformado. Os tragediógrafos mais conhecidos do período clássico são Ésquilo, Sófocles e Eurípedes.
Suas obras são apresentadas até hoje. A tragédia influenciou os códigos
teatrais até o período do “classicismo francês”, que após este momento o drama,
e o melodrama, começa a se desenvolver.
Atualmente, quando se refere ao termo tragédias clássicas, busca-se indicar
àquelas realizadas nos teatros grego e romano, e as tragédias neoclássicas são
as obras de períodos “recentes” que foram buscar referências nas tragédias
clássicas.
Oficina de Filosofia e Teatro / Pibid Filosofia-UFSM / Professor Everton
Nogueira e professora Lorena Miranda.
Proposta de atividade do grupo
Filosofia e Teatro
Tema: moral
Objetivos:
abordar filosoficamente questões referentes às ações humanas, a partir da
doutrina moral kantiana, bem como, desenvolver técnicas teatrais que
possibilitem aos estudantes demonstrar os conteúdos problematizados nas
oficinas.
Habilidades e competências a serem
desenvolvidas: o intento é de que, ao termino das
oficinas, os estudantes desenvolvam algumas competências básicas da atividade
filosófica e teatral.
Desenvolvimento das habilidades
procedimentais: o intento é de que, ao término da
unidade, os alunos tenham capacidade de representar, a partir da perspectiva
teatral trabalhada, esquetes que abordem problemas filosóficos relacionado com
o tema proposto.
Desenvolvimento dos conteúdos
conceituais: o intento é de que os alunos possam
reconhecer como cada conceito trabalhado (boa vontade, dever, máximas morais,
imperativos categóricos e hipotéticos) se relaciona com o nosso cotidiano.
Desenvolvimento dos conteúdos
atitudinais: entendemos que uma das atitudes
filosóficas a serem estimuladas junto aos alunos são comportamentos como saber
ouvir, respeitar e responder às ideias e argumentos alheios e aceitar que suas
ideias e argumentos sejam discutidos e avaliados pelos outros.
Metodologia: 1°
momento – exercício de relaxamento e percepção corporal
2° momento – debate a
cerca da problemática apresentada pelo autor
3°
momento – montagem e encenação de esquete sobre os problemas identificados e
novo debate.
1º
oficina:
Tema:
liberdade
Objetivo:
abordar o tema da liberdade a partir da perspectiva sartreana.
Metodologia:
1° momento – exercícios e jogos teatrais com a construção de uma imagem
corporal da liberdade a partir da compreensão do que ela significa para cada
aluno;
2° momento – inserção dos conceitos
fundamentais para a compreensão da tese do autor;
3° momento – montagem e encenação de esquete
sobre o dilema apresentado por Sartre.
4° momento – novos debates e problematizações
a cerca do tema;
5° momento – montagem de novo esquete com
releitura do dilema encenado anteriormente.
Resultados
atingidos: montagem de cenas e debates sobre as principais ideias desenvolvidas
nas oficinas.
2º oficina:
Tema:
respeito
Objetivo:
problematizar a respeito das ações humanas a partir da opinião dos alunos
Metodologia:
1º
momento: discutir com os alunos, cenas do cotidiano em que percebessem as ações
que considerassem uma boa ou má ação.
2º momento: realização
de uma esquete com a cena descrita pelos alunos.
3º momento: realização
de uma esquete em que os alunos representam sua resposta ao problema verificado
por eles.
Resultados:
realização das esquetes denominadas O
roubo e A morte do mendigo.
3º oficina:
Tema:
moral
Objetivo:
abordar o tema a partir da perspectiva kantiana.
Metodologia:
1° momento – inserção dos conceitos fundamentais para a compreensão da tese do
autor;
2°
momento – montagem e encenação da esquete sobre os exemplos encontrados na obra
do autor.
3° momento – novos debates e
problematizações a cerca do tema;
4° momento – realização
de nova esquete com a releitura dos alunos, sobre os exemplos.
Resultados atingidos:
realização da esquete denominada Entregar
ou não o judeu que está em sua casa?
Bibliografia:
BOAL, Augusto. Teatro
do Oprimido e Outras Poéticas Políticas. Rio de Janeiro: Ed. Civilização
Brasileira S.A, 1991.
______________
200 exercícios e jogos para o ator e o não-ator com vontade de dizer algo
através do teatro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983.
KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos costumes. Tradução
de Paulo Quintela. Lisboa: edições 70, 2007.
SARTRE, J. P. O existencialismo é um humanismo. Coleção os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
ATIVIDADE DE ENCERRAMENTO DO CURSO
INTRODUTÓRIO DE FILOSOFIA E TEATRO
·
ATIVIDADE DE CRIAÇÃO DE MONÓLOGOS
Em teatro
ou oratória, um monólogo é uma longa fala ou discurso pronunciado por uma única pessoa ou enunciador. O nome é composto pelos
radicais gregos monos (um) + logos (palavra, ou idéia), por oposição a dia/diálogo (dois, ou através
de) + logos.
Monólogo é a forma do discurso em que o
personagem extravasa de maneira razoavelmente ordenada seus pensamentos e emoções,
sem dirigir-se a um ouvinte específico.
No Monólogo é comum que os atores rebusquem
pensamentos profundos psicologicamente, expondo idéias que podem até
transparecer que há mais de um ator em cena, mas que no real exijam somente uma
pessoa durante a cena. Enfim, monólogo está associado a um conflito psicológico
que não necessariamente é individual.
§
É comum em teatro, desenhos animados, e filmes.
§
A palavra pode também ser aplicada a um poema no formato de pensamentos ou discurso
individual.
§
Monólogos também são comuns em óperas, quando uma ária, recitação ou outra seção
cantada, tem uma função similar a um monólogo falado numa peça teatral.
§
Monólogos são comumente encontrados na literatura
de ficção do século XX.
§
Monólogos cômicos tornaram-se um elemento padrão
em programas de entretenimento no palco ou televisão.
- Agora
que já sabemos o que é um monólogo, vamos criar nossos próprios monólogos?
- Regras:
- A
criação do texto é individual, portanto, responsabilidade de cada
ator-filósofo.
- Escreva
um monólogo de no mínimo 40 linhas.
- É
de extrema importância o conteúdo dos monólogos.
- Procure
sempre fazer conexões com os temas filosóficos abordados nas oficinas.
- Perguntas norteadoras:
Quem sou eu? Qual é o sentido da vida? Qual é a relação entre Filosofia e
Teatro? O que é ser ético? Quais são os meus maiores sonhos? Quais são os
meus maiores medos? Eu sou uma pessoa livre?
BIOPOLÍTICA de Peter Pál Pelbart
"Del poder de soberanía al poder sobre la vida" en Genealogia del racismo. Madrid, La Piqueta, 1992. Pp.247-273. de Michel Foucault.(1976)
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